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Tuesday, May 1, 2007

Leiam este artigo da Visao. É tão fácil falar! Pergunto-me se estes senhores que escrevem estas coisas fantásticas têm filhos e se vivem diariamente com eles. Cá para mim é paleio no masculino. Só os homens é que acham que sabem educar os filhos. O senhor esquece-se que a educação também é feita de cedências. Não todas claro. Uma criança só vê a fraqeza de um adulto se as cedências forem sistemáticas. Bem doseadas ensinam-nos a serem adultos condescendentes com o próximo.



Pergunto-me quando é que a maioria dos supostos tugas sofredores da bonomia nacional tão alardeada ( traduzo: estupidez crassa e imbecilidade latente)conseguirão perceber o que se retrata a seguir.... A DEVIDA COMÉDIA, Miguel Carvalho Quinta, 1 Março 2007 Criancinhas A criancinha quer Playstation. A gente dá. A criancinha quer estrangular o gato. A gente deixa. A criancinha berra porque não quer comer a sopa. A gente elimina-a da ementa e acaba tudo em festim de chocolate. A criancinha quer bife e batatas fritas. Hambúrgueres muitos. Pizzas, umas tantas. Coca-Colas, às litradas. A gente olha para o lado e ela incha. A criancinha quer camisola adidas e ténis nike. A gente dá porque acriancinha tem tanto direito como os colegas da escola e é perigoso ser diferente. A criancinha quer ficar a ver televisão até tarde. A gente senta-a ao nosso lado no sofá e passa-lhe o comando. A criancinha desata num berreiro no restaurante. A gente faz de conta e o berreiro continua. Entretanto, a criancinha cresce. Faz-se projecto de homem ou mulher. Desperta. É então que a criancinha, já mais crescida, começa a pedir mesada,semanada, diária. E gasta metade do orçamento familiar em saídas, roupa damoda, jantares e bares. A criancinha já estuda. Às vezes passa de ano, outras nem por isso. Mas não se pode pressioná-la porque ela já tem uma vida stressante, de convívio em convívio e de noitada em noitada. A criancinha cresce a ver Morangos com Açúcar, cheia de pinta e tal, e torna-se mais exigente com os papás. Agora, já não lhe basta que eles estejam por perto. Convém que se comecem a chegar à frente na mota, no popó e numasférias à maneira. A criancinha, entregue aos seus desejos e sem referências, inicia oprocesso de independência meramente informal. A rebeldia é de trazer por casa. Responde torto aos papás, põe a avó em sentido, suja e não lava, come e não limpa, desarruma e não arruma, as tarefas domésticas são «uma seca». Um dia, na escola, o professor dá-lhe um berro, tenta em cinco minutos pôr nos eixos a criancinha que os papás abandonaram à sua sorte, mimo e umbiguismo.A criancinha, já crescidinha, fica traumatizada. Sente-se vítima de violênciaverbal e etc e tal. Em casa, faz queixinhas, lamenta-se, chora. Os papás, arrepiados com a violência sobre as criancinhas de que a televisão fala e nadúvida entre a conta de um eventual psiquiatra e o derreter do ordenado em folias de hipermercado, correm para a escola e espetam duas bofetadas bem dadas no professor «que não tem nada que se armar em paizinho, pois quem sabe do meufilho sou eu». A criancinha cresce. Cresce e cresce. Aos 30 anos, ainda será criancinha,continuará a viver na casa dos papás, a levar a gorda fatia do salário deles. Provavelmente, não terá um emprego. «Mas ao menos não anda para aí a fazerporcarias». Não é este um fiel retrato da realidade dos bairros sociais, das escolasem zonas problemáticas, das famílias no fio da navalha? Pois não, bem sei. Estou apenas a antecipar-me. Um dia destes, vão ser os paizinhos a irparar ao hospital com um pontapé e um murro das criancinhas no olho esquerdo. E então teremos muitos congressos e debates para nos entretermos.