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Wednesday, November 21, 2007

Morrer devagar





Quantas vezes somos defrontados com a dor de uma tragédia no próximo e rapidamente nos vergamos à fatalidade do destino. Ouvem-se tiradas como : «não somos nada» ou «O homem pôe e Deus dispõe» e outras. Torna-mo-nos solidários com as vitimas e por breves instantes temos uma ténue noção da infinitude da nossa pequenez. Tentamos prolongar estes acessos de humanidade por algum tempo mas dificilmente arrepiamos caminho. E lá no fundo soltam-se suspiros de alívio pois na verdade não é connosco... No entanto muitos se esquecem que há quem viva com diariamente com a notícia de uma tragédia anunciada, um morrer devagar, uma revelação de um Alzheimer ou de um Parkinson ou de uma esclerose. Quando a tragédia surge as tiradas são diferentes: «já se estava à espera» é a mais comum. É como se a dor fosse menor pois quem se vai já não era gente, mas apenas um corpo sem alma. Os demais que os rodeiam são esquecidos,o sofrimento que tiveram de partilhar anos e anos não é digno de respeito. A morte é uma alivio para todos.Talvez seja verdade. Mas quem tem de viver com este morrer devagar sofre todos os dias. A todo o momento se fecham perspectivas e a esperança esvai-se. Nada poderá ser como antes. É como a luz bruxeleante de uma vela a chegar ao fim. Um dia vai-se e já ninguém lhe sente a falta...