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Monday, November 29, 2010

A depressão do domingo

Estudo diz que pessoas só conseguem 'desligar' na manhã de sábado e que voltam a pensar nisso a meio da tarde de domingo

"A minha semana nem sempre começa à segunda-feira. Às vezes começa logo no domingo. A partir da parte da tarde é como se já fosse um dia de semana normal." Jorge tem 32 anos e trabalha como consultor na área das tecnologias de informação, um trabalho exigente e competitivo. Por isso, nem sempre é fácil "desligar" e o domingo serve já para "preparar a semana". Está longe de ser caso único: segundo um estudo britânico, para a maior parte dos que trabalham, o fim-de-semana termina às 16.00 de domingo e, na prática, dura apenas 27 horas.

Isto porque, segundo o mesmo estudo, só por volta da uma da tarde de sábado é que os trabalhadores começam a descontrair. E por volta das 16.00 de domingo voltam a pensar em trabalho e a organizar mentalmente a semana seguinte. Fazendo as contas sobram 27 horas de descanso em que conseguem estar completamente desligados do emprego.

O inquérito - feito por uma cadeia de hotéis britânica que entrevistou 4000 empregados entre os 18 e 60 anos sobre os seus hábitos de trabalho - descobriu que seis em cada dez acabam por fazer alguma tarefa relacionada com o trabalho ao longo do fim-de-semana, reduzindo ainda mais o tempo de descanso. Quase metade passa os olhos pelo e-mail do trabalho e 10% trabalham com frequência aos fins-de-semana. Um quarto admitiu que o faz porque se sente pressionado pelo chefe. Outros pelo facto de os colegas também o fazerem.

O sociólogo do trabalho Luís Graça considera que estas são algumas das consequências perversas da revolução das comunicações. "As próprias empresas dão aos trabalhadores presentes envenenados, como computadores portáteis e telemóveis de última geração, que fazem com que eles estejam 24 horas por dia ligados", lembra.

Assim, o fim-de-semana, uma conquista do século XX - em Portugal, na segunda metade - , é ameaçado por empregos que "transbordam" para fora do local de trabalho. "Há uma regressão, que terá custos para a saúde física e mental dos trabalhadores e para a qualidade de vida e da vida em família", conclui o sociólogo, especialista em saúde ocupacional.

Aliás, metade dos entrevistados no referido estudo inglês admitiu que o trabalho afecta o tempo que passam com a família, e mais de metade que se sentiam demasiado cansados para aproveitar o fim--de-semana, em parte devido às tarefas domésticas.

E se demoraram décadas a regular as "perversidades da revolução industrial" - dos horários ao trabalho infantil, passando pela segurança - também pode haver "uma geração cobaia" até se encontrar uma forma de regular os efeitos desta mudança de paradigma em relação ao trabalho", alerta o sociólogo.

"O trabalho, por um lado, foi fortemente intelectualizado, mesmo nas fábricas, devido à automatização. É fisicamente mais leve, mas mentalmente mais cansativo. As pessoas já não são esmagadas pelas máquinas, mas há novos problemas. O trabalho é uma coisa que nos persegue e que em alguns casos causa grande sofrimento", explica Luís Graça.

«O fim-de-semana dura apenas 27 horas »
por PATRÍCIA JESUS 27-11-2010

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